sábado, 18 de setembro de 2010

Ordenha como usar e quantas vezes usar

Aprenda a usar uma ordenha e quantas vezes no dia deve-se ordenhar

Quando se pensa em aumentar a produtividade, o produtor de leite precisa atentar também para a freqüência da ordenha de suas vacas. Adequada às condições do rebanho, ela pode ter um impacto surpreendente. Essa questão é tão importante, que pesquisas sobre o tema não faltam. Nos EUA e em Israel, por exemplo, os melhores ganhos ocorrem com seis ordenhas/dia. Já na Nova Zelândia, começa a ganhar corpo a tendência cuja opção é por apenas uma ordenha diária, levando em conta o sistema de exploração, genética e uma pretendida menor dependência da função.

Além disso, já funciona a ordenha voluntária, em países como a Holanda, que vem adotando uma unidade de ordenha individual totalmente automatizada, à qual os animais têm acesso a qualquer hora do dia para serem ordenhados. Nesse sistema, há vacas que recorrem à ordenha-robô duas ou três vezes por dia, enquanto outras utilizam a mesma cabine até oito vezes no mesmo período. Mas voltando para a realidade brasileira, as opções são de, no máximo, três vezes ao dia, e a escolha depende fundamentalmente dos ganhos a mais que cada uma delas proporcione.

"É importante que o produtor opte corretamente por uma freqüência de ordenha que corresponda ao potencial de sua exploração", diz André Lima, veterinário e gerente de desenvolvimento de negócios, em Minas Gerais, da empresa DeLaval. Observa que é preciso conhecer a fisiologia da glândula mamária para poder relacionar a produção com o número de ordenha. Ele explica que o leite é produzido continuamente nos alvéolos, 24 horas por dia, e que quando estes ficam repletos, a síntese do leite se torna mais lenta.

Thaís Passos, veterinária do Rehagro - Recursos Humanos no Agronegócio, observa que a maioria dos rebanhos leiteiros brasileiros é ordenhada duas vezes ao dia, uma opção que geralmente otimiza o investimento no equipamento de ordenha. "Entretanto, dependendo o do potencial de produção, não se pode deixar de levar em conta que uma terceira ordenha diária pode aumentar a produção de leite em até 20% do volume", observa.

Já Humberto Souza Dias, médico veterinário e consultor em nutrição e reprodução de rebanhos leiteiros, de Alfenas-MG, salienta que o produtor de leite deve estar em constante expansão e precisa aumentar a produtividade do sistema para diluir os custos operacio¬nais e do investimento nas instalações. Para ele, ao avaliar essa mudança comprovadamente benéfica, o produtor deve se ater ao critério de produtividade, e não ao de raça, pois é aquele que determinará se o mais adequado é uma, duas ou três ordenhas.

Explica que há um consenso técnico de que, quando a produtividade média do rebanho ultrapassar os 10 litros de leite por vaca/dia, tem-se um aumento de produção com a introdução da segunda ordenha na rotina diária. "Quando a produtividade do rebanho ultrapassar os 23 litros por vaca/dia, a terceira ordenha poderá ser recomendada", ele cita. Lima nota que a mudança de duas para três ordenhas traz melhorias à saúde da glândula mamária, refletida em menor número de mastite clínica e menor índice de células somáticas.

Decisão envolve dieta - "Esse efeito ocorre devido ao menor estresse a que o úbere é submetido e à maior retirada do leite. Porém, para que isso ocorra, o funcionamento do equipamento de ordenha e a rotina devem estar perfeitos, caso contrário, o efeito pode ser inverso", alerta. Ele chama a atenção ainda para o fato de que, ao passar de duas para três ordenhas, o produtor deve ter em mente que a produção das vacas aumentará, mas, conseqüentemente, suas exigências nutricionais serão maiores, exigindo um novo balanceamento da dieta.

Outro ponto importante que ele ressalta diz respeito ao tempo em que a vaca permanece no processo de ordenha, desde o momento em que saiu para ser ordenhada até o retorno ao pasto ou confinamento. Para duas ordenhas, é recomendado que, no máximo, seja gasto uma hora, enquanto, para três ordenhas, esse tempo não deve exceder os 45 minutos.
Antes de introduzir qualquer mudança na freqüência da ordenha do rebanho, o produtor precisa fazer uma acurada avaliação. Thaís detalha alguns pontos que merecem ser avaliados antes da tomada de decisão: o potencial de produção dos animais; o custo da diferença de produção; a disponibilidade e o custo da mão-de-obra para a ordenha e o manejo nutricional. "O potencial de produção dos animais é fator determinante para a decisão quanto à freqüência da ordenha", diz.

Complementando esse raciocínio, Dias faz questão de frisar que não adianta ordenhar mais leite, se a receita financeira correspondente não cobrir os custos envolvidos na obtenção desse resultado. Ele faz alguns cálculos que podem servir de orientação e exemplo para os produtores. Rebanhos com produtividade acima de 25 litros geralmente desfrutam de um aumento de 3 litros de leite por vaca/dia, quando passam de duas para três ordenhas. No entanto, quanto menor a produtividade do rebanho, menor será a resposta.

Já um rebanho com 50 vacas, com uma produtividade média de 22 litros de leite, em regime de duas ordenhas, ao passar para três ordenhas, terá um aumento médio de 2,2 litros por vaca/dia. Esse aumento na produção de 110 litros por dia pode ou não ser compensatório, ele ressalva. O Quadro 1 mostra o custo operacional de uma hora de ordenha em circuito fechado (50 vacas/hora), extraído de algumas fazendas do sul de Minas e São Paulo. Cada ordenha, neste exemplo, terá um custo adicional de 1 litro de leite por vaca. Ou seja, o produtor teria, então, um saldo de 1,2 litros de leite por vaca/dia.

Quadro 1-
Custo operacional de uma hora de ordenha (50 vacas)

Energia elétrica (por rateio)R$ 5,00/h
Mão-de-obra + encargos R$ 6,50/h
Pré e pós dippingR$ 3,30/h
Material de limpeza R$ 1,80/h
Filtro de leite R$ 2,50/h
Insufladores e borrachas R$ 2,70/h
Gerenciamento (rateio) R$ 3,50/h
Manutenção e outros R$ 2,00/h
Total R$ 27,30/h

Influência da mão de obra - Thaís Passos alerta para outro ponto muito importante a ser considerado: a mão-de-obra. "A disponibilidade da mão-de-obra normalmente é o principal motivo para não se adotar a prática das três ordenhas, já que a jornada de trabalho aumenta muito e os mesmos ordenhadores, geralmente, não conseguem cumprí-la, sendo necessário o pagamento de horas-extras ou a contratação de mais gente para o serviço", analisa ela, destacando que isso gera mais custos e, muitas vezes, desavenças entre os funcionários e/ou complicações trabalhistas.

Destaca que contar com uma equipe motivada e preparada para fazer a tarefa com qualidade é fundamental para a saúde do úbere das vacas. "Ordenhar vacas leiteiras com a maior freqüência possível parece ser benéfico para a saúde de úbere, mas se as ordenhas não forem bem feitas, acabam agredindo os tetos, expondo quartos a agentes de mastite e a outras doenças", relata. É importante, salientam os entrevistados, que o produtor tenha consciência de que é possível aproveitar todo o potencial de seu sistema de produção, desde que faça a coisa certa.

E isso também, logicamente, diz respeito à freqüência da ordenha. Dias explica que em sistemas de produção extensiva, com um pequeno investimento em instalações e um baixo custo operacional, que tenha difícil manejo dos animais e mão-de-obra onerosa, o mais recomendável é realizar apenas uma ordenha diária. Já em sistemas com instalações adequadas, facilidade de manejo dos animais, alimentos de boa qualidade, potencial genético e mão-de-obra compatível, a rotina diária de duas ordenhas pode ser a ideal.

"Agora, para sistemas intensivos de produção, com alto investimento em instalações, dietas de alta densidade, monitoramento do conforto dos animais, equipe de trabalho qualificada e animais de boa genética, certamente, a rotina de três ordenhas diárias é a mais indicada", diz ele. Quando se faz alteração na freqüência da ordenha, não é preciso que as vacas passem por um período de adaptação, devendo ser observada apenas a elevação da densidade nutricional e o ajuste no manejo.

Finalizando, Dias explica ainda que também não há alteração significativa na composição do leite entre as diferentes freqüência de ordenha. "Apenas uma leve redução no percentual médio de gordura, que certamente deriva do aumento de produtividade. Quanto maior a produtividade do rebanho, maior a quantidade de concentrado utilizado na dieta e menor o percentual de gordura do leite", assinala.

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