terça-feira, 5 de outubro de 2010

Melhoramento genética, ALGUNS RESULTADOS DE PESQUISA

ALGUNS RESULTADOS DE PESQUISA EM
CRUZAMENTOS DE Bos taurus COM Bos indicus NO BRASIL
A busca por animais de grande porte, com alta taxa de ganho em peso, e conseqüentemente almejando-se carcaças mais pesadas, talvez seja uma das principais razões que induziram ao uso preferencial de animais de raças européias continentais em cruzamentos no Brasil. Esta tendência tem se modificado ultimamente, e deve alcançar um equilíbrio à medida que os resultados e preferências vão se consolidando e se ajustando e, principalmente, à medida que se compreenda melhor a adequação do binômio genótipo-ambiente.

Para que se possa apresentar uma idéia geral dos resultados, procurou-se apresentá-los sob três grandes tópicos: i) eficiência reprodutiva; ii) desempenho até o abate; e iii) características de carcaça.

i) Eficiência reprodutiva - um dos aspectos mais importantes da produtividade e competitividade da pecuária bovina de corte é, sem dúvida, a eficiência reprodutiva envolvendo desde precocidade reprodutiva até número de bezerros desmamados passando por intervalo de partos e sobrevivência dos bezerros até a desmama.

Norte et al. (1993), em um estudo conduzido para avaliação de animais "meio-sangue" zebu-Red Angus, observaram média de idade à primeira concepção de, aproximadamente, 14 meses e, um intervalo primeira-segunda concepção de 354 dias. O índice de fertilidade destas novilhas, média de três anos, foi de 94%.

Uma avaliação de idade à primeira concepção, conduzida por José et al. (1991) em novilhas Nelore e meios-sangues Guzerá-Nelore, Red Angus-Nelore, e Marchigiana-Nelore, indicou que a menor idade foi alcançada pelas novilhas Red Angus-Nelore (26,4 meses). Não houve diferença entre as "meio-sangue" Guzerá-Nelore e Marchigiana-Nelore (33,8 e 30,5 meses, respectivamente), enquanto que para a Nelore a idade à primeira concepção foi de 38 meses. Maior precocidade de mestiços foi também evidenciada pelos resultados de Silva & Pereira (1986). Estes autores estudaram zebu, e mestiços Chianina-zebu (1/2 e 3/4 zebu) e concluíram que as fêmeas "meio-sangue" foram mais precoces. O maior período de serviço foi observado para o grupo de fêmeas zebu. Os índices de não retorno ao cio foram 73, 60 e 63% para as fêmeas 1/2 Chianina-zebu, 3/4 zebu-Chianina e zebu, respectivamente. A superioridade reprodutiva de mestiços está de acordo com os resultados de Perotto et al. (1994). Estes autores estudaram idade ao primeiro parto e intervalo de partos de fêmeas Nelore, Guzerá-Nelore, Red Angus-Nelore e Marchigiana-Nelore e observaram, para a idade ao primeiro parto, os seguintes valores: 529, 536, 372 e 445 dias, respectivamente; enquanto que para intervalo de partos os valores, na mesma ordem, foram: 1360, 1248, 995 e 1096 dias.

Em uma avaliação da eficiência de diferentes grupos genéticos, conduzida por Ribeiro & Lobato (1988b), utilizando animais 3/4 Red Angus-Devon, 3/4 Charolês-Devon e 1/2 Tabapuã-Devon, observou-se que a produtividade, medida por quilograma de bezerros desmamados/número de vacas expostas, favoreceu as vacas 3/4 Red Angus-Devon. Os outros dois grupos não diferiram entre si. Os índices obtidos foram 57, 38,1 e 40,6 kg, respectivamente, para 3/4 Red Angus-Devon, 3/4 Charolês-Devon e 1/2 Tabapuã-Devon. Diferenças na eficiência produtiva também foram observadas por Euclides Filho et al. (1994a). Neste caso, a eficiência foi medida pela relação entre quilogramas de bezerro desmamado e quilogramas de vaca à desmama do bezerro. Os grupos avaliados foram vacas F1 Fleckvieh-Nelore, Charolês-Nelore e Chianina-Nelore e a maior eficiência foi alcançada pelas "meio-sangue" Fleckvieh-Nelore, 0,41. Os outros dois grupos não diferiram quanto à eficiência que foi, em média, 0,38. Alencar et al. (1988), no entanto, estudando eficiência de fêmeas Canchim e Nelore, não observaram diferença (0,375 vs 0,378, respectivamente) quando esta eficiência foi medida como kg de bezerros/kg vacas. Entretanto, quando se avaliou a relação kg bezerros/idade da vaca ao parto, houve superioridade do Canchim.

Objetivando avaliar a taxa de prenhez de novilhas, Rosado et al. (1991a) estudaram três grupos genéticos, Nelore, Chianina-Nelore e Fleckvieh-Nelore, observando que a menor taxa foi alcançada pelas fêmeas Nelore (55,8; 83,3 e 83,8%, respectivamente). Resultados concordantes foram obtidos por Rosado et al. (1991b), em uma avaliação de vacas de quatro grupos genéticos, Nelore, Chianina-Nelore, Limousin-Nelore e Fleckvieh-Nelore. Neste caso, os valores observados para taxa de prenhez foram: 66,7; 78,9; 93,7 e 88,8, respectivamente.

ii) Desempenho do nascimento ao abate - como o objetivo final da bovinocultura é produzir carne, o desempenho dos animais é um componente importante a ser avaliado em um sistema de produção.

De modo geral, os resultados de cruzamentos têm evidenciado vantagens para os mestiços no que se refere a pesos e ganhos em peso.

Felten et al. (1988), estudando o desempenho de Charolês, Nelore, Charolês-Nelore e Nelore-Charolês, em confinamento, verificaram ganhos de 1211, 1022, 1158 e 1085 g para os quatro grupos genéticos, respectivamente. Quanto à conversão alimentar, no entanto, o Nelore foi superior aos demais grupos, 6,98; 8,06; 8,35 e 9,12, respectivamente. Superioridade do Nelore quanto a eficiência de utilização de matéria seca, celulose e energia bruta foi também observada por Manzano et al. (1986), quando a dieta apresentava alto teor de volumoso (relação volumoso-concentrado de 70:30%). No entanto, esta tendência inverteu-se quando as dietas apresentavam maiores percentagens de concentrado (50:50 e 40:60).

Leme et al. (1985), avaliando o desempenho de animais Nelore, Nelore-Canchim, Nelore-Santa Gertrudis, Nelore-Holandês, Nelore-Suíço e Nelore-Caracu, verificaram que a pior conversão alimentar foi observada no grupo Nelore-Holandês. Os grupos Nelore, Nelore-Canchim e Nelore-Santa Gertrudis foram iguais, enquanto que os outros dois grupos não diferiram dos demais.

Diferenças em conversão alimentar de diferentes grupos foram também identificadas por Cardoso & Silva (1986). Estes autores avaliaram animais "meio-sangue" Charolês-Nelore, Chianina-Nelore, Fleckvieh-Nelore, e o Nelore puro. Os resultados obtidos para conversão alimentar foram: 7,10; 6,58; 7,48 e 7,03 para os quatro grupos genéticos, respectivamente.

Ribeiro & Lobato (1988a), avaliando os desempenhos de bezerros filhos de vacas 3/4 Angus-Devon, 3/4 Chianina-Devon e 1/2 Tabapuã-Devon, concluíram que os filhos das vacas meios-sangues foram os mais pesados à desmama. Isto se deveu à sua maior capacidade de ganho e à maior produção de leite de suas mães. Resultados concordantes foram obtidos por Silva & Pereira (1986) em uma avaliação de fêmeas com diferentes graus de sangue Chianina-Nelore (1/2, 1/4 e 5/8).

A avaliação de animais mestiços Limousin-Nelore e Charolês- Nelore, conduzida por Alencar et al. (1994), possibilitou que os autores concluíssem não haver diferença para pesos ao nascimento e à desmama entre os dois grupos. Por outro lado, os resultados de Souza et al. (1994), para pesos à desmama de produtos de vacas Nelore acasaladas com touros Nelore, Brangus, Simental, Canchim, Gelbvieh, Angus, Brangus Vermelho e Gir, evidenciaram diferenças entre vários grupos genéticos, destacando-se, no entanto, os filhos de Gelbvieh, Angus e Simental.

Superioridade dos mestiços foi também reportada por Barcellos & Lobato (1992a) em um ensaio conduzido com animais Hereford e mestiços Hereford-Nelore. Os mestiços apresentarm maior ganho médio diário até a desmama, o que, segundo os autores, foi reflexo da heterose individual exibida pelos 1/2 Hereford-Nelore e 3/4 Hereford-Nelore. Estes mesmos autores (1992b) observaram que os mestiços foram superiores nos pesos à desmama, a um ano e a um ano e meio de idade. No entanto, esta superioridade foi influenciada pelo grau de sangue, decrescendo quando os indivíduos apresentavam mais de 50% de "sangue" Nelore.

iii) Características de carcaça - à medida que a pecuária de corte se evolui e o mercado consumidor se torna mais exigente, maior atenção tem de ser dada ao produto final da atividade que é a carne. Assim, características de carcaça passam a ser parâmetros importantes na avaliação do sistema de produção.

Boin et al. (1994), em um trabalho desenvolvido para avaliação de carcaça de Nelore, South Devon-Nelore, Hereford-Nelore, Angus-Nelore e Caracu-Nelore, não verificaram diferenças entre os grupos genéticos, para rendimento de carcaça. Variações neste parâmetro foram, no entanto, verificados por Luchiari Filho et al. (1985a) em um experimento comparando Ne-lore, Canchim e Santa Gertrudis. Os resultados indicaram que as raças Canchim e Nelore apresentaram rendimento de carcaça fria iguais e superiores àquele da Santa Gertrudis. Canchim e Santa Gertrudis, no entanto, apresentaram maiores proporções de traseiro especial e dianteiro que o Nelore.

Felten et al. (1988), em um estudo avaliando carcaça de animais Charolês, Nelore, Charolês-Nelore, Nelore-Charolês, terminados em confi-namento, verificaram que a principal diferença observada foi o menor peso de carcaça apresentada pelos novilhos Nelore. Resultados semelhantes foram obtidos por Porto et al. (1994), em uma avaliação envolvendo 15 grupos genéticos, e Mariante et al. (1982), trabalhando com animais Nelore e meios-sangues Fleckvieh-Nelore, Chianina-Nelore e Charolês-Nelore.

Euclides Filho et al. (1994b) também não encontraram diferenças para características de carcaça estudadas, entre animais Nelore, 3/4 Nelore-Fleckvieh, 3/4 Nelore-Charolês e 3/4 Nelore-Chianina. Neste caso, o ponto de abate foi um peso fixo de 440 kg. Diferenças em rendimento de carcaça, no entanto, foram observadas por Luchiari Filho et al. (1985b) em uma avaliação conduzida com Nelore, Nelore-Canchim, Nelore-Santa Gertrudis, Nelore-Holandês, Nelore-Suíço e Nelore-Caracu. Os animais Nelore-Canchin apresentaram o maior rendimento de carcaça fria. Não houve diferença entre os demais grupos genéticos. Quanto à percentagem de porção comestível, os grupos Nelore e Nelore-Santa Gertrudis apresentaram os piores valores.

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