sábado, 10 de abril de 2010

IA vs monta natural

IA vs monta natural: analise prática e econômica

Um touro explorado, via IA, é evidentemente muito mais oneroso que o touro que cumpre, "livre e solto", com suas"obrigações" em um rebanho. Sua manutenção (cuidadosamente controlada na Central de IA), a coleta, o acondicionamento das doses de sêmen, a distribuição do sêmen e os serviços do inseminador, tornam relativamente elevados os custos. Mas o custounitário é consideravelmente diminuído devido à repartição sobre um número muito superior de inseminações. Um touro de monta natural possui um custo fixo (manutenção, depreciação) independentemente do número de fêmeas a serem servidas (dentro do limite da sua capacidade fisiológica). Conseqüentemente, o custo da monta natural diminui em função inversa do efetivo dasfêmeas do rebanho (Figura 1).

Figura 1. Custo de uma cobertura (monta natural) em função do tamanho do rebanho (Adaptado de Mallard & Mocquot, INRA Prod. Anim., 11, 33-39, 1998).

A paridade com o preço da IA é alcançada com um rebanho de aproximadamente 30 vacas. Os criadores cujo efetivo do rebanho seja inferior a esse valor têm, portanto, um interesse financeiro direto em eliminar o touro que utilizam parcialmente. Na maioria dos paises da Europa, por exemplo, desde 1970 o uso da IA era duas vezes mais freqüente para um rebanho de 10 vacasque de 40 (80% contra 35%). Desde essa data, o tamanho dos rebanhos aumentou consideravelmente, mas essas conclusões permanecem válidas. Constata-se que, desde o início, a IA se afirmou como um fator direto de melhora do lucro financeiro nas pequenas e médias propriedades.

A IA tem sido tradicionalmente mais utilizada em gado de leite, que em gado de corte, devido ao contato freqüente do tratador com as fêmeas leiteiras (freqüentemente confinadas ou semiconfinadas). Adicionalmente, a ordenha freqüente, oferece ocasião para detectar os cios e conseqüentemente decidir sobre inseminar ou não. Já em gado de corte, essa observação regulardo cio é uma sobrecarga de trabalho que um touro de monta natural "não se importa em fazer". Outras razões, especificamente de ordem genética, justificam o emprego da IA em rebanho de maior tamanho.

A Embrapa, em colaboração com a Associação Brasileira de Inseminação Artificial (ASBIA), elaborou uma planilha para gado de leite em que o próprio produtor pode avaliar o custo da obtenção de uma fêmea por monta natural (MN) ou IA (Martinez et al., 2004). O aplicativo encontra-se dividido em planilhas destinadas à estimativa dos custos da IA e MN. Nas planilhas são apresentadas três possibilidades ou alternativas de simulação, permitindo a introdução de dados em diferentes cenários (número de fêmeas, a relação reprodutor/fêmea, a taxa de concepção e a relação doses de sêmen/concepção, etc.). Embora os custos operacionais da IA, em alguns casos sejam superiores à MN, o resultado final será sempre favorável à IA, devido ao ganho genético incorporado ao rebanho. Na situação em que se utiliza o touro provado, via IA, metade de seu valor genético é transmitido para suas filhas, o que aumenta o potencial genético delas, e conseqüentemente, se adequadamente alimentadas, elas produzirão mais do que as filhas de um touro de monta natural. A análise de um rebanho com 100 fêmeas em reprodução, indica ganhos que variam de R$560,00 a R$950,00 dependendo da taxa de concepção, três lactações e uso de touros com PTA variando 500 a 1500 kg de leite. No caso da MN, o reprodutor usado é considerado como tendo valor genético igual a zero.

Da mesma forma, as filhas de um touro provado podem, quando descartadas de seu rebanho de origem, ser ainda utilizadas em outros rebanhos, como vacas de produção, e não irem diretamente para o frigorífico. Isto gera também um diferencial em relação às filhas dos touros de monta natural que não tem provas de seu mérito genético. Espera-se que, quanto maior for o mérito genético (PTA) de um touro, maior será também a valorização de suas filhas.

Em gado de corte, Amaral et al (2003) realizaram igualmente uma simulação dos custos da IA e MN utilizando 550 fêmeas em reprodução. Os autores estimaram uma taxa de prenhez de 80% para os dois sistemas. O preço do touro no Sistema 1 (MN) foi de R$4.000,00 e partiu-se do pressuposto (pouco provável) que esse touro possuía avaliação genética e teria diferençaesperada da progênie (DEP) positiva para peso ao abate. O valor do sêmen utilizado no Sistema 2 (IA) foi de R$10,00 e também seria proveniente de um touro com avaliação genética , de forma que o peso ao abate seria semelhante para os dois sistemas. O resumo dessa analise é mostrado no Quadro 1.

Quadro 1. Cálculo do custo de IA e da monata natural para gado de corte (Amaral et al., 2004)

Embora tenha sido obtida uma renda bruta (receita menos gastos operacionais) de aproximadamente 5% maior com a MN, os autores concluíram que a IA é a forma mais viável de aceleração do melhoramento genético do rebanho (e conseqüente lucro real), uma vez que touros de alto valor genético (positivo para ganho de peso) geralmente não estão disponíveis para o uso em MN.

Outras vantagens de uso da IA.

Além das vantagens acima mencionadas, a ASBIA relaciona outras situações em que pode ser conveniente (e rentável) o uso da IA.

1 Possibilitar o cruzamento entre raças;

2 Prevenir acidentes, que podem ocorrer com vacas e principalmente com novilhas quando o touro é muito pesado;

3 Prevenir acidentes com funcionários, familiares ou visitantes da propriedade, devido ao comportamento agressivo de alguns touros;

4 Usar de touros com problemas adquiridos e impossibilitados de efetuarem a monta ou após sua morte;

5 Reduzir a dificuldade dos partos, pelo uso de touros que comprovadamente produzem filhos de pequeno porte ao nascimento

6 Aumentar o número de descendentes de um reprodutor;

7 Padronizar o rebanho, facilitando a comercialização dos lotes;

8 Melhorar o controle zootécnico do rebanho.

Este último aspecto constitui uma prática de singular importância, pois a anotação correta dos dados possibilita fazer uma avaliação rigorosa do desempenho reprodutivo decorrente do programa de IA e permite fazer mudanças direcionadas a alcançar as metas de desempenho previamente estabelecidas (Tabela 1).

Tabela 1. Parâmetros de referência para avaliar a eficiência de um programa de IA.

MétodoMédiaMeta
Não Retorno (%)65-70>75
Serviços/Concepção1,8-2,2<1,5
Intervalo entre partos (meses)13,5-21<13
Dias parto/prenhez120<100
Abortos/ano (%)5-10<5
Idade ao primeiro parto (meses)26-40<26
Período seco (dias)40-6055 (média)
Parto/primeiro serviço (dias)9060 (média)

Inconvenientes do uso da IA

Embora sejam poucos os inconvenientes do uso da IA, muitas vezes a desconsideração desses aspectos pode inviabilizar a implementação de um programa de IA na propriedade.

1 Necessidade de identificar os animais em cio (deve existir uma boa vigilância para detecção do cio).

2 Treinamento para realizar a inseminação.

3 Da mesma forma que a IA promove o melhoramento genético e controle sanitário dos rebanhos, existem o risco (insignificante quando o sêmen é adquirido de centrais registradas) da técnica ser uma poderosa ferramenta para disseminar na população touros de expressão genética negativa ou mesmo doenças reprodutivas.

4 Dificuldade para manter o sêmen armazenado (disponibilidade de N2 líquido).

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