Estudo mostra que o planeta está ficando mais seco

Um novo estudo, divulgado esta semana em Cancun, durante a conferência do clima, alerta: o aumento da temperatura média do planeta pode ser de 4ºC até o final do século, se as emissões de gás carbônico não forem controladas. Uma previsão preocupante, porque, agora em 2010, com menos de 1ºC a mais na temperatura, as secas já estão mais severas e mais frequentes em várias partes do mundo.

Há meses o moinho de vento gira em vão. Já não há água para bombear dos reservatórios. No céu, nem um pontinho branco. Só o azul profundo. E o sol - implacável - castigando as plantações. E a estação da seca, ainda nem começou.

O fazendeiro diz que a plantação deveria estar tocando a cintura, mas os pés estão baixos demais para a máquina colher. E ele decidiu pelo menos salvar as ovelhas - que tiram da lavoura fracassada a pouca proteína que sobrou.

Sem chuva o inverno inteiro, o pasto não brotou. Os bois foram mandados embora. Uma tentativa de salvar o gado e também a terra. Se os bois andassem por lá, a terra teria virado um pó, que qualquer vento forte leva.

O vizinho mostra o trigo. A espiga que produziu, tem nove grãos, em vez de 40. Mas a maioria está completamente seca. Nem a semente vai dar para recuperar.

É triste, mas tem que esperar que o próximo ano seja muito melhor.

Quando passam meses olhando pro céu sem ver uma nuvem, sem que caia uma gotinha de chuva, é normal que as pessoas se perguntem: que tempo é esse? Onde é que foi parar a chuva? No caso da Austrália, os cientistas tem uma resposta.

Um estudo da Universidade da Tasmânia, na Austrália, mostrou que houve uma mudança na movimentação das massas de ar sobre o Pacífico. O ar úmido e quente está indo para a Antártica, antes de alcançar a Austrália.

Essa mudança climática explica porque a camada de gelo naquela parte da Antártica. Ao contrário do lado oeste, mais próximo do fim da América do Sul, que está aquecendo e perdendo gelo.

E no sudoeste da Austrália, que já foi o Cinturão do Trigo, os laguinhos de água salgada, agora são pequenos desertos de sal.

Esta é a quarta seca em 10 anos e a pior já registrada na história da região. E os fazendeiros vão ter que se adaptar. Os estudos mostram que as chuvas diminuíram em todo o país. E que nas próximas décadas a Austrália vai ficar muito mais seca.

Um estudo recente mostra que, o planeta inteiro está ficando mais seco. Ciclos naturais combinados ao aquecimento global, vão fazer dobrar as áreas de seca. Principalmente nas regiões tropicais. O que inclui a Austrália e a Amazônia. Enquanto o norte do planeta vai ver aumento de chuvas.

No Brasil, a previsão é de que a Amazônia tenha uma diminuição dramática de chuvas tornando mais intensas e frequentes as secas como a deste ano - a maior já registrada na região.

Amazônia, Rio Negro, perto de Manaus. A estação de chuvas já começou, mas o rio ainda está oito metros abaixo do seu nível médio. Os igarapés, os braços do rio, secaram. Como a água é a estrada, comunidades inteiras continuam isoladas com os barcos encalhados na areia ou na água rasa.

Mesmo na voadeira pequena, de motor alto, tivemos que desistir de prosseguir. Impossível navegar na lama. O que no início da seca eram bancos de areia ou terra rachada, agora são tapetes intermináveis de um verdinho claro. Plantas novas em terra roubada do rio.

É que o leito do rio é cheio de matéria orgânica. Basta não estar alagado e sobrar um pouquinho de umidade que vira uma terra fértil. Aí, o capim cresce por toda parte. Este ano a seca está durando tempo suficiente para o capim ficar adulto e dar até semente.

Culpa das mudanças climáticas? Difícil saber. Existe um consenso entre os cientistas de que no sudeste da Amazônia, a floresta vai dar lugar ao cerrado, já nas próximas décadas.

Mas no Rio Negro, a própria seca deste ano revelou provas de que o rio já esteve baixo: surgiram inscrições e desenhos deixados por uma civilização há pelo menos cinco mil anos. Nesta década a Amazônia teve duas secas e uma cheia recordes.

“Agora, é possível, e até provável, que o aquecimento do planeta esteja intensificando essas secas e essas cheias. Mas, cientificamente, ainda não é possível garantir isso. A gente vê, e pelo menos se a gente analisa os últimos 25 anos no nível do Rio Negro no Porto de Manaus, a gente nota claramente uma leve tendência no aumento das cheias anuais e uma tendência ainda mais importante das secas, as secas cada vez mais baixas. Então, essa amplitude entre o rio mais alto, o máximo do rio, e o mínimo do rio, ano a ano, tem aumentado, nesses 25 anos, em 10 centímetros por ano” ”, diz Antonio Manzi, climatologista.

Cheias e secas fazem parte do ciclo natural da floresta. O problema é quando as secas são muito intensas e muito próximas umas das outras.

Um estudo do impacto da seca de 2005 mostrou que ela provocou a morte de tantos milhões de árvores que naquele ano um equilíbrio se desfez - em vez de pulmão do mundo, a Amazônia passou a emitir mais gás carbônico do que capturar. As árvores se alimentam de gás carbônico, o principal causador do efeito estufa. Mas quando as árvores morrem, liberam esse gás de volta para a atmosfera.

A morte de árvores também afeta as chuvas. Uma árvore grande pode liberar até 500 litros de água em forma de vapor em apenas um dia quente, formando nuvens, que depois fazem chover na floresta. E as nuvens têm um papel importante -- embora ainda pouco compreendido -- no aquecimento global.

“Uma nuvem alta, por exemplo, ela tem um papel de refletir a radiação solar. Portanto, ela não intensifica o aquecimento, porque como ela é muito alta, ela tem cubos de gelo, enfim, ela reflete aquela radiação. Uma nuvem um pouco mais baixa faz o inverso: ela aprisiona a radiação, aumentando ainda mais a temperatura da Terra. Então, a modelagem dessas nuvens é fundamental também pra você entender o balanço, não é, o equilíbrio térmico do planeta”, aponta.

Um equilíbrio que já foi mexido, sem que a gente entenda completamente como isso vai mudar o dia de amanhã. 

FONTE: g1.com